Sendo convidada a apresentar um gesto artístico para a nova edição do Circular – festival de artes performativas – a minha proposta foi abrir o processo de criação artística à população, concretizada na oficina Utopias Ciborgues e Outras Casas nas Árvores. Daí em diante o trabalho passa a ser de autoria do colectivo Alberto Magno, Ana Borges, Carla Cruz, Carolina Lapa, Filipe Gomes, Jorge Pinheiro, Júlia Ferreira e Micaela Maia.
Tal como George Orwell, partimos de um sentimento de militância, queremos chamar a atenção sobre o mundo em que vivemos, mas também proporcionar uma experiência estética centrada nas nossas visões utópicas. Todos nós construímos em crianças os nossos modelos de sociedade – de casa – em cima de tijolos empilhados no quintal, com giestas ou cobertores sobre cadeiras, e a noção utópica de ciborgue de Donna Haraway ajudou-nos a catalizar a nossa visão colectiva de uma nova casa na árvore – de um novo mundo. Um ciborgue é um organismo cibernético, um híbrido de máquina e organismo, uma criatura de realidade social e fictícia. Aquilo que é argumentado é que o ciborgue é uma ficção que projecta a nossa realidade social e corpórea e que é também um recurso para imaginar novas ligações. Assim, novas imagens identitárias, comunitárias e ecológicas surgiram da reunião deste grupo, que serão formalizadas no festival através de um poster publicado nos jornais locais e numa intervenção artística de rua de forma a chegarem a um público o mais diversificado possível, pois a arte precisa ser parte da experiência quotidiana.