Cronologia Aproximada da AAPA, 2020 Cronologia Aproximada da AAPA, 2020 photo by Carla Cruz photo by Carla Cruz photo by Carla Cruz photo by Carla Cruz photo by Andi Studer photo by Andi Studer photo by Andi Studer photo by Andi Studer photo by Andi Studer photo by Andi Studer photo by Andi Studer photo by Andi Studer Requiem de Sofia Monteiro e Xavier Paes Requiem de Sofia Monteiro e Xavier Paes Requiem de Sofia Monteiro e Xavier Paes, photo by Andi Studer Requiem de Sofia Monteiro e Xavier Paes, photo by Andi Studer Requiem de Sofia Monteiro e Xavier Paes, photo Carla Cruz Requiem de Sofia Monteiro e Xavier Paes, photo Carla Cruz Requiem de Sofia Monteiro e Xavier Paes Requiem de Sofia Monteiro e Xavier Paes

A Descoberta de Um Aterro Ilegal

Associação de Amigos da Praça do Anjo Bus Tour: à descoberta de um aterro ilegal

Uma conversa sobre rodas entre a Praça do Anjo (Porto) e o Alto das Torres (VN Gaia) que pretende observar a mudança do tecido urbano e social no Porto.

Com:

Carla Cruz & Ângelo Ferreira de Sousa – AAPA

Pedro Figueiredo – Worst Tours

Sofia Monteiro e Xavier Paes

Cultura Cidade | Um Direito!

O atual projeto  levou a cabo uma visita o aterro ilegal vila-novense onde em 2015 foi encontrada a lápida da AAPA. Para tal, foi alugado um autocarro que transportou os interessados até ao local. [Travessa do Alto das Torres / Mafamude] O ponto de partida foi o local onde se encontrava, até há pouco tempo, o clérigos shopping. A visita foi feita com a participação de Pedro Figueiredo das Worst Tours. Este coletivo de arquitetos tem levado a cabo uma importante reflexão política em torno das questões do urbanismo. As suas visitas e ações em muito se aproximam das inquietações da própria AAPA. Parece-nos, portanto, natural, que esta visita se faça em colaboração com as Worst Tours.

Portugal, 2006. Todo o país se encontra diminuído sob o peso da crise financeira e económica que devasta a Europa do sul. O Porto, segunda cidade do país e histórico bastião industrial e comercial, sofre de maneira particularmente cruel a destruição da pequena e média economia do país. O seu centro histórico, onde se mistura a traça medieval, o barroco eclesiástico e as construções da burguesia liberal do século XIX, classificado Património Cultural da Humanidade em 1996, está então em grande parte desertificado. À debandada para as periferias, verificada a partir dos anos 50, junta-se uma gestão do património habitacional público e privado que deixa os edifícios cair em ruína. A discussão pública sobre o planeamento urbano é quase nula, e a crise económica em nada ajuda. A Praça do Anjo – oficialmente Praça de Lisboa – ocupa um espaço central

junto à Torre dos Clérigos, um dos símbolos barrocos da cidade. Este lugar, em permanente transformação desde a época medieval, é uma excelente amostra onde são visíveis todas as grandes tensões, crises e logros do Porto e de Portugal. A sua fundação mítica é atribuída ao primeiro rei de Portugal, no século XII. Aqui foi construída uma capela, a quem se deve o nome da futura praça. Naquela época, no Porto, o poder da igreja católica superava o do rei. Esta luta de poderes manteve-se ao longo dos séculos até que, em 1833, o rei D. Pedro IV, rei liberal e vencedor da guerra civil contra os absolutistas, atribuiu à Câmara Municipal (CMP) o terreno pertencente a um extinto Mosteiro para naquela zona se construir um mercado público. O mercado acabaria por ser demolido em 1948, e o lugar ocupado por um parque de estacionamento selvagem. No final da década de 70, a CMP decidiu a construção de um moderno centro comercial, que se concretizou no início dos anos 80: o Clérigos Shopping. O espaço caiu numa lenta decadência até que, em 2006, a última loja resistente fechou as suas portas.A escultura de um anjo feminino, conhecida por Anja, que mantinha a ligação histórica da praça à figura do anjo, bronze da autoria do escultor José Rodrigues (1936-2016) foi então furtada. Em 2007, a Associação de Amigos da Praça do Anjo (AAPA) é fundada por Carla Cruz e

Ângelo Ferreira de Sousa. Sob a fachada dessa fictícia associação de cidadãos – indignados com o furto de uma escultura em espaço público – o duo de artistas promove, desde então, uma discussão em torno da crescente privatização do espaço público.

A segunda ação da AAPA consistiu no descerramento de uma lápide nas paredes exteriores do Clérigos Shopping. A cerimónia inaugural foi abrilhantada por uma composição musical inédita da dupla !Von Calhau¡ Esta lápide, colocada, furtivamente, numa noite de fevereiro, permaneceu no local até 2011, altura em que começaram as obras de reconversão do espaço comercial. Seguiram- se vários anos de silêncio nos quais nada soubemos sobre o paradeiro da placa até que, num dia de 2015, um agente da PSP contactou a AAPA através da sua página Facebook. Acabara de encontrar uma lápide num aterro selvagem em Vila Nova de Gaia, e perguntava se nos pertencia. Tratava-se, efetivamente, da lápide de 2008, desaparecida em 2011. Ficámos, então, a saber o destino não só da lápide mas também dos restos do Clérigos Shopping: um aterro ilegal, destino idêntico ao de tantas outras obras, públicas e privadas. O achado da patrulha da PSP foi noticiado no Jornal de Notícias.