Placa de Mármore Placa de Mármore Installation of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015 Installation of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015 Installation of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015 Installation of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015 Installation of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015 Installation of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015 Inauguration of the missing of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015 Inauguration of the missing of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015 Inauguration of the missing of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015 Inauguration of the missing of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015 Inauguration of the missing of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015 Inauguration of the missing of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015 Inauguration of the missing of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015 Inauguration of the missing of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015 Inauguration of the missing of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015 Inauguration of the missing of the plaque, Praça do Anjo, Porto, 2015

Praça do Anjo V

A cidade dos seguranças ou da violência do privado

Nos últimos anos a cidade do Porto mudou.

Em 2006, a dupla de artistas Carla Cruz e Ângelo Ferreira de Sousa (CC+ÂFS) fazia uma pintada no antigo Cinema Águia d’Ouro, há décadas abandonado e em ruínas. Numa noite chuvosa, armados de uma escada de vários metros e de uma lata de spray, pintaram o nome do filme “Noite na Terra” no decadente cinema, sem pedir autorização e em total impunidade. Um carro-patrulha da PSP passou, os agentes testemunharam certamente a ação, mas as ruínas não são de ninguém, são de todos. A noite era de todos.

No ano seguinte, 2007, a dupla começou a interessar-se pelo “Clérigos Shopping”, ou pelo o que restava dele. Construído no final dos anos 80, este centro comercial descoberto encontrava-se num estado de abandono total e crescente ruína. A escultura de José Rodrigues representando uma “anja” tinha sido furtada. Ou, se quisermos ser rigorosos, o bronze que constituía a escultura foi roubado, cortado in situ por uma rebarbadora de metal e retirado do local, em total impunidade. A Associação de Amigos da Praça do Anjo (AAPA) nasce deste drama. Criada por CC+ÂFS, a Associação levou a cabo as seguintes ações no espaço da Praça do Anjo, aliás Praça de Lisboa, aliás “Clérigos Shopping”: uma visita guiada às ruínas, cujo acesso era restrito, em 2007; a colocação e inauguração de uma placa de granito polido e letras douradas em memória d’”Anja” desaparecida, em 2008; e um jantar- convívio no único espaço útil sobrevivente ao abandono e à ruína, o parque de estacionamento subterrâneo, em 2011.

A lápide descerrada em 2008, colocada, furtivamente, numa noite de fevereiro, permaneceu no local até 2013, altura em que começaram as obras de reconversão. Deste modo, a placa seguiu o destino da “Anja” e desapareceu. A cidade, agora fiel da panaceia turística, ia mudando ao mesmo tempo que a Praça do Anjo. O velho mercado do Anjo deu lugar a um espaço comercial de luxo e propriedade privada. Um espaço transplantado à semelhança das oliveiras que o decoram.

Em maio de 2015, a AAPA voltou ao local para descerrar uma nova lápide. Mas a cidade mudou. Durante a colagem os membros da AAPA foram interpelados pelos seguranças privados, assalariados da empresa detentora dos direitos do espaço, que, em total impunidade, decretaram a apreensão da placa. Depois de chamada ao local, a PSP identificou ambas as partes e procedeu ao registo dos autos e apreensão do material. A saber: uma lápide de mármore com poema de Rilke inscrito e uma pistola de silicone laranja, material impróprio para fixar mármore. CC+ÂFS e J.L.T., escoltados até à esquadra do Infante, serão futuramente chamados a prestar declarações, acusados de vandalismo e atentado à propriedade privada.

O Porto mudou? O centro da cidade continua em grande medida deserto de habitantes. Os espaços domésticos dos cidadãos, que sempre viveram no centro, continuam miseráveis. Todas as grandes reconstruções destinam-se à indústria hoteleira. O povo é cliente, ou não é. Em cada esquina, um hotel. Em cada esquina, dois seguranças. O Porto mudou.

“Se eu gritar, quem poderá ouvir-me,

nas hierarquias das ?

E, se até alguma de súbito me levasse para junto do seu coração:

eu sucumbiria perante a sua natureza mais potente. Pois o belo apenas é

o começo do terrível (…)”

associação de amigos da praça dx anjx, porto, MMXV