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Bonjardim

Como resposta ao convite de apresentar uma performance no espaço ‘A Sala’, decidimos simular uma atmosfera de inauguração mas em vez de estarmos presentes para recebermos o público convidamos atores a estarem no nosso lugar. A estes foram dadas instruções prévias de forma a poderem agir como Carla e Ângelo, sabendo também exatamente que tipo de relação tínhamos com cada possível visitante. Desta forma comentamos a noção de ‘abertura’ do circuito artístico alternativo.

A propósito desta intervenção os artistas encontraram-se em Paris com a crítica de arte Charlotte Smith (investigadora na Universidade de Paris XIII); aqui se transcreve parte da conversa tida a 24 de Junho de 2011:

“O Artista Emancipado”

Charlotte Smith: Michael Warner no seu já clássico texto “Counter Publics” afirma que a condição sine qua non de constituição de uma audiência, a que se possa chamar público, é a abordagem de ‘desconhecidos’. Nesse sentido, de que forma a vossa performance problematiza a noção de público?

Ângelo Ferreira de Sousa: Eu acho que a nossa performance reflete exatamente isso. A meu ver, no contexto alternativo portuense, praticamente não há ‘desconhecidos’.

Carla Cruz: Isso transforma esses espaço mais em laboratórios do que espaços expositivos.

AFS: Essa é uma das características interessantes desses espaços: o facto de serem pequenos, o que faz com que as ‘personagens’ se sintam em ‘família’, com todas as virtudes e perversões que tal ambiente acarreta.

CC: Mas ainda assim o seu grande desejo é de irem ao encontro de um público, nesse sentido que Michael Warner afirma: “um público desconhecido”. Portanto, a nossa questão é se os espaços alternativos conseguem ultrapassar a falta de visibilidade a que estão votados e se algumas das estratégias não terão que mudar.

CS: Nesse sentido achei muito interessante a vossa opção de trabalharem com atores…

AFS: À boca de cena todos os atores sentem uma vontade de fuga, este medo primordial de escapar é comum a todos os que devem afirmar a sua presença num palco social. Interessou-nos então a ideia de não reprimir a fuga e de pura e simplesmente não aparecer. Com isto colocamos também em causa o circuito simbólico dos valores da arte entre afirmação e reconhecimento. O que é, ao fim e ao cabo, uma crítica do autor.

CC: Portanto, a fuga é ao mesmo tempo encenada e executada. Pois para todos os efeitos, os artistas estavam lá para receber o seu conhecido e reconhecido ‘público’.

CS: Sim, parece-me que é uma pequena comédia em que o papel dos atores é invertido: o público passa a ser o ator do seu próprio papel, levando a ideia de espetador a uma inversão quase perversa…

AFS: O convite feito aos atores foi uma estratégia de abordar exatamente as questões que nos parecem fundamentais na arte contemporânea: o público, a autoria e o reconhecimento corporativo.

CC: Ou seja, o medo do palco!

AFS: Ao mesmo tempo fazendo uma auto-crítica aos circuitos artísticos.

CS: Interessa-me aqui mais do que a noção de emancipação do espetador em relação à “tradução da obra” a emancipação do artista que recusa cumprir o seu papel de ‘maître de cérémonie’, nem que para tal, como vocês o fizeram, leve esse papel a um extremismo lúdico.

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