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Jusqu ici tout va bien

O problema dos arranha-céus é a ascensão. Quero dizer: o problema está nos elevadores, antes mesmo do preço do metro quadrado do terreno deixar de justificar a subida, já os ascensores nos deixam apeados. Na verdade, os edifícios mais altos têm utilizado um sistema de elevadores escalonados, de aqui até a 40º andar, depois outro até o 80º, e outro… O problema físico é a pressão, o problema prático é o tempo (que se perde ou se deixa de ganhar) na subida. Na verdade, a ascensão é tanto mais lenta quanto mais alto é o edifício. Esta questão arrefeceu a corrida aos arranha-céus desde que começaram a ser construídos mas não a deteve. Durante muitos anos as novidades não abundaram, os maiores edifícios do mundo situavam-se todos nos Estados Unidos, entre Nova Iorque e Chicago, e abaixo dos 500m. Outra construção vertical, de betão, de contenção, o muro de Berlim, construído em 1961, ofuscou em notoriedade outra corrida pela definição do mundo em caixas estanques. Depois de 1989, construções de uma nova geração têm sido erguidas, marcado outras linhas que, já nem supostamente, são as da liberdade. A deslocalização é acompanhada e compensada, actualmente os edifícios mais altos encontram-se na Formosa (508m), em Kuala-Lumpur na Malásia (450mX2) ou em Xangai na China (460m) …

Os anjos de Wenders reuniam-se na zona-de-ninguém entre o Leste e o Ocidente, há duas semanas, um cidadão marroquino foi abatido a tiros na terra-de-ninguém entre a União Europeia e o Terceiro-Mundo (dupla ou tripla linha de vedações de arame com 6 metros de altura cada). Para quem gosta de perder-se em pormenores dir-se-á que o “imigrante” morreu sem que se tenha descoberto de que lado partiu o tiro. Esta terra acima da geografia, este Guantánamo, território entre dois muros é, bem sabido, o pior sítio para se estar. Os muros são mais antigos que os arranha-céus. Ainda assim, ambos traçam as danças do medo, marcando a terra com este ou aquele, provisório, poder político. Observem-se exemplos de peso, a muralha da China (séc. III a.C.; c. 16m de altura, 8m de espessura, c. 2500Km de comprimento), pretendia impedir a entrada dos Mongóis, o Muro de Adriano (a partir de 122 d.C.; c. de 4,5m de altura, 3m de espessura e 118Km de comprimento), procurava barrar o caminho de outros bárbaros sobre o império Romano. O Muro das Lamentações (48m de comprimento, 18m de altura), que representa os restos de um antigo Templo, esteve sob o poder árabe desde 638 d.C. O Muro da Cisjordânia, ou Barreira de Segurança de Israel, construído bem perto dali, percorre uma parte dos territórios palestinianos ocupados em 1967, incluindo o sector oriental de Jerusalém, e terá, uma vez concluído, 350Km de comprimento atingindo nalgumas zonas 7m de altura. Protegendo o alçado sul do “Empire State Building” (381m), o Muro Fronteiriço EUA-México procura impedir a entrada de imigrantes ilegais provenientes da América Central e do Sul em território dos Estados Unidos. A sua construção, iniciada em 1994, conta já com 3000 mortos, 7 metros de altura e 595Km de extensão. Barreiras para bárbaros, portanto, perspectivas elevadíssimas para cidadãos livres, não por caso posta em cheque pelos atentados de 11 de Setembro. Para Jean Baudrillard.1, na destruição do WTC (417mX2) não foi alheia a sua arquitectura arrogante. “Os pobres são perigosos: moralmente perigosos. Porque são parasitas sociais, improdutivos, ladrões, prostitutas, drogados, etc – ou politicamente perigosos, porque desorganizados, imprevisíveis, e tendencialmente reaccionários.” 2. Na perspectiva térrea do nómada, ou novo bárbaro, o desafio do muro é superá-lo. No caso do Muro de Berlim, a maior parte das tentativas ficaram bem documentadas, as mais criativas, dividem-se em dois estilos antagónicos: ultrapassar a barreira por baixo (túneis escavados), e superá-la por cima (flutuando). O bote presente nesta exposição, como máquina desejante, insere-se nesta segunda tradição, a tradição que pretende iludir a segurança elevando-se do chão. A referência à “Valla de Melilla” (dupla ou tripla barreira de 6m de altura) é directa, até mesmo porque esta combina as suas intenções com o mar Mediterrâneo. Mais se poderia dizer sobre o aproveitamento de acidentes geográficos como linha de divisão política, (montanhas como os Pirinéus, os Andes ou os Alpes, rios como o Minho, o Guadiana, o Danúbio, o Reno, mares como o Mediterrâneo, etc.) A levitação (do Latim: levis, leveza) é o processo com o qual se consegue suspender um objecto numa posição estável contrariando, assim, as forças de gravidade, mediante o uso de forças exercidas sem contacto com o objecto. O Bote Voador, como um tapete voador, indica acima de tudo o sonho, a evasão, o exotismo, as viagens românticas. Na linguagem internacional das comunicações por via rádio, o alfabeto, considerado potencialmente equívoco, foi adaptado com a substituição das letras por palavras. A por alfa, B por Bravo, C por Charlie. Assim se explica o nome da famosa porta do muro de Berlim, e do seu posto de controle fronteiriço, o Check-Point Charlie. Para esta porta, saída/ entrada do muro, nos dirigimos à boleia.

Ângelo Ferreira de Sousa

notas:

1 – La violence du Monde (Institut du Monde Arabe, Paris) – .Edition du Félin, 2003

2 – Toni Negri e Michael Hardt in Multidão – Campo das Letras, Porto – 2004

Ângelo Ferreira de Sousa

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