Stirbei Palace - Bucharest, installation view Stirbei Palace - Bucharest, installation view Stirbei Palace - Bucharest, installation view Stirbei Palace - Bucharest, installation view Stirbei Palace - Bucharest, installation view Stirbei Palace - Bucharest, installation view Stirbei Palace - Bucharest, installation view Stirbei Palace - Bucharest, installation view Stirbei Palace - Bucharest, installation view Stirbei Palace - Bucharest, installation view Stirbei Palace - Bucharest, installation view Stirbei Palace - Bucharest, installation view

A Child s Play

Uma Brincadeira de Crianças
Foucault anunciou a mudança de paradigma do controlo de estado através do exemplo da prisão panoptica. Desenhada por Jeremy Bentham em 1975 esta prisão permitia o controlo total de cada detido a todo o momento, da forma circular do edifício uma única pessoa poderia vigiar todas as outras a partir da torre no seu centro, para além do mais os detidos podiam observar-se uns aos outros à distância, mas nunca veriam o vigia, assim a vigilância poderia até ser feita sem que ninguém estivesse na torre, pois em caso de dúvida os detidos sentiam-se observados a todos os momentos, tanto pelo colectivo como pelo sentinela invisível. Esta dúvida e autocontrole ou o sentimento de uma omnisciência invisível, como o denominou Bentham, deu forma ao novo paradigma Foucaudiana: o biopoder.
A mudança de uma sociedade disciplinar que controlava corpos, corpos individuais – cada um tomado, treinado, dobrado, moldado e se necessário castigado e corrigido – a uma sociedade organizada em torno da vigilância que controla não corpos particulares mas corpos e mentes colectivos, mostra a mutação de um poder que se interessa agora pela população como um todo sem preocupação de maior com indivíduos, estendendo-se na manutenção das vidas das pessoas, não apenas na forma como vivem mas quem vive. O individual é abstracizado e a disciplina torna-se num assunto privado em vez de demonstrar os seus actos exemplares na praça pública, retira o individuo da vista das massas; assim também o controlo e a vigilância já não agem sobre um individuo particular mas sobre toda a população, portanto através de mecanismos massificados que os transforma numa operação auto-reflexiva.
Mais ao menos ao mesmo tempo que Habermas escreve sobre o fim da esfera pública literária (ou burguesa) – onde indivíduos encontram-se para discutir racionalmente e formar uma opinião pública (que controlaria as politicas do estado de muito perto) e o aparecimento de uma massa desinformada e sem opinião; Claude Lefort fala da revolução democrática – a decapitação do Príncipe (ou na realidade de Luís XVI) – e a dissolução dos apontadores da realidade que paradoxalmente levaram à abstracção do individuo a um mero número nas estatísticas.
Mas o que é assim tão assustador nesta abstracção e autocontrole?
Se a esfera pública racional foi a vigilância do aparelho de estado, com o desaparecimento desta esfera o privado desabou sobre o público; e se com a revolução democrática a legitimação da sociedade já não se encontra numa esfera transcendental e o espaço do poder deverá permanecer vazio, ou melhor, não poderá ser tomado definitivamente por nenhum dos partidos… não seremos já simultaneamente o individuo na cela e o colectivo no exterior? Será portanto a pergunta como reproduzimos nós modos de comportamento, ou seja, de auto-vigilância, em vez de como podemos voltar o nosso olhar para quem nos observa, uma vez que somos ao mesmo tempo o detido na cela e o individuo qualquer – colectivo democrático – na torre. Podermos desconstruir essa reprodução comportamental de quem está sempre sob vigia e de quem está sempre a vigiar?
Uma brincadeira de Criança, pretende compreender as ideias em torno das noções de controlo, Estado, vigilância, omnisciência, Deus, individual e comunitário do ponto de vista das crianças e adolescentes na tentativa de procurar possíveis respostas à questão da alternativa da Sousveillance uma visão de baixo para cima.
Enquanto criança cresci num país que tinha saído muito recentemente de um regime fascista através de uma revolução comunista para uma democracia liberal, num pais que aderiu à Comunidade Económica Europeia (hoje EU), num país muito afectado pela religião católica e os seus costumes e moral, um país muito velho de súbdito renovado, com o seu lado bom e mau. Para mim a noção avassaladora de ser vigiada a todo o momento não era sob a capa de um biopoder mas a omnipresença de Deus o que teve uma influência enorme no meu crescimento em paralelo com os valores que, já então, mistificaram a revolução dos Cravos de 1974, e ainda assim eu encontrei formas de inverter o meu auto-controle. Com uma presença parental em crescimento e com o acesso a formas diferentes de estarmos juntos através da Internet, como é que os miúdos de hoje lidam com estas noções à medida que atravessam este período de teste , de forçar os limites das fronteiras?
Várias formas de expressão serão usadas durante o diálogo com um grupo de adolescentes portugueses, da palavra escrita à oral, da colagem ao desenho à linguagem corporal; que mais tarde será editada e processada num documentário ficcional.

Meta Cultural Foundation